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Soro contra picadas de cobras levado à Feira de Nuremberga

Angola apresenta na Feira de Inovação, Ideias e Novos Produtos, que decorre em Nuremberga, Alemanha, um soro experimental denominado “Murino” para tratamento de vítimas de mordeduras de serpentes.

O remédio resulta de um trabalho de investigação científica desenvolvido pela Faculdade de Medicina de Malanje, da Universidade Lueji a’Nkonde, em parceria com o Instituto Butantã, do Brasil, e com o Laboratório de Toxicologia da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (Portugal).

A investigação que deu origem à produção do soro “Murino” é desenvolvida por uma equipa de dez investigadores, liderada pela médica angolana Paula Oliveira e integrada por dois investigadores do Instituto Butantã e por um do Laboratório de Toxicologia da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto.

O estudo sobre o soro experimental é um dos três que a Universidade Lueji a’Nkonde apresenta este ano na Feira de Nuremberga, depois de ter conquistado na edição passada uma medalha de ouro com a “Estratégia de prevenção de mordeduras de serpentes em Angola”.

Os dois outros estudos levados à Alemanha pela Universidade Lueji a’Nkonde, e apresentados tal como o primeiro pela médica Paula Oliveira, são designados por “Programa de prevenção, preparação e resposta rápida a emergências químicas em Angola”, da autoria do Centro de Investigação e Informação de Medicamentos e Toxicologia (Cimetox), e por “Caracterização bioquímica dos venenos de serpentes em Angola de importância médica”, da autoria da equipa de investigadores que desenvolve o soro experimental “Murino”.

A médica Paula Oliveira disse ontem ao Jornal de Angola, por email, que a produção do soro experimental foi feita no Laboratório de Imunoquímica do Instituto Butantã com veneno de serpentes capturadas, entre Março e Abril do ano passado, na expedição “Ndala Lutangila”, às províncias do Cuanza Sul, Huíla, Malanje e Benguela, onde ocorrem com frequência mordeduras de cobras, uma realidade que Paula Oliveira admitiu ser extensiva a todo o país. A escolha daquele nome para a expedição deve-se ao facto de ndala, que também é conhecida por lutangila, ser uma serpente que tem um veneno que mata rapidamente e ser muito temida pelos camponeses. A médica, que no seu curso de doutoramento em Toxicologia se dedica ao estudo imunoquímico do veneno das serpentes, insistiu na necessidade de uma maior divulgação das medidas de prevenção, sobretudo nas zonas rurais, onde as pessoas estão mais expostas ao risco de mordeduras de serpentes.

A médica avisou que o meio urbano também não está livre de acoitar ofídios, cujo surgimento pode ser causado, por exemplo, pelo lixo.

“As mordeduras de serpentes representam um importante problema de saúde pública, que afecta as populações rurais em África”, disse a médica, estimando que, na África Subsaariana, ocorram anualmente 314 mil mordeduras, que provocam 7.300 óbitos e oito mil amputações.

Paula Oliveira acentuou que o cenário epidemiológico em Angola ainda é desconhecido, “embora possamos inferir que seja alto, se tivermos em conta os dados de países vizinhos limítrofes, como a República Democrática do Congo.”

Os pacientes, sobretudo os das áreas rurais, não buscam ou não têm acesso aos serviços de saúde, tornando difícil o registo oficial dos casos, salientou a médica, para quem o único tratamento efectivo para os envenenamentos por mordeduras de serpentes é a administração de um antiveneno específico.

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Última actualização 2019-10-03